terça-feira, 30 de abril de 2019

O batismo de Marx


por Ivo Tonet
 
I. Introdução

Está em curso, desde há algumas décadas, no interior da cristandade, em especial da Igreja Católica, um processo de cristianização de Marx.

Como não poderia deixar de ser, este processo é tempestuoso, cheio de conflitos, chegando a opor de forma bastante violenta pessoas integrantes da mesma comunidade cristã.

Para os que defendem este processo de cristianização, ele não significaria nada mais do que aproveitar o pensamento de Marx no que ele tem de útil para a elaboração de um discurso teológico doutrinário cristão.

Para os que são contra, o pensamento de Marx é radicalmente contrário à mensagem cristã e toda tentativa de utilização dele terá como consequência a descaracterização da essência do cristianismo.

A compreensão deste processo de cristianização de Marx, exigiria, na coerência com os fundamentos metodológicos para a compreensão de qualquer fenômeno ideológico, uma análise do mundo atual a partir de sua matriz econômica. É a partir dela e na articulação com os outros momentos da realidade social que se poderia situar melhor as perspectivas e os limites deste empreendimento.

No entanto, dada a brevidade deste artigo, limitar-me-ei a levantar algumas questões que me parecem relevantes, a partir da comparação de certos aspectos importantes dos processos de cristianização de Marx e de Aristóteles.

Devo dizer, também, que o objetivo deste trabalho não é o de entrar na polêmica – própria dos cristãos – acerca da possibilidade e do modo de conciliação do pensamento de Marx com o cristianismo, mas tão somente de examinar este processo enquanto fenômeno social com implicações que atingem não apenas os cristãos mas o conjunto da sociedade.

II. O batismo de Aristóteles

Como se sabe, nos séculos XIII e XIV, o filósofo Aristóteles também foi submetido a um processo semelhante de cristianização. O cristianismo, durante longos séculos, tinha sido mais uma expressão de fé do que de razão, apesar das tentativas de alguns Padres da Igreja, em especial S. Agostinho, de encontrar um “modus vivendi” entre a fé e a razão.

Começava, no entanto, a esboçar-se nesta época (s. XIII e XIV) aquilo que pouco mais tarde se apresentaria como a tônica do pensamento moderno: a razão como instância última diante da qual deveria comparecer tudo que quisesse adquirir foros de conhecimento verdadeiro.

E neste momento que se faz necessário, para a própria sobrevivência do cristianismo, um trabalho mais sistemático que permitisse dar à fé um suporte racional.

O pensamento de Aristóteles mostrou-se o instrumento adequado a este empreendimento. Mas havia dois problemas sérios e interligados. Um proveniente do próprio caráter do sistema construído por Aristóteles, que não se harmonizava facilmente com a ortodoxia cristã. O outro, em consequência disto, proveniente da autoridade eclesiástica, guardiã desta mesma ortodoxia, ou seja, depositária de uma interpretação do cristianismo considerada verdadeira.

Ao contrário da cerimônia batismal, onde tudo é festa, o batismo de Aristóteles foi muito agitado, gerando inúmeras polêmicas, processos, ameaças de excomunhão e até recursos ao braço secular. O próprio Tomás de Aquino, figura maior deste empreendimento, chegou a ver teses suas condenadas como heréticas pelo bispo de Paris.

No entanto, apesar dos inúmeros percalços, o processo de cristianização de Aristóteles, do ponto de vista cristão foi um sucesso, permitindo armar a mensagem religiosa com um travejamento filosófico que perdura até os nossos dias. Este sucesso se deveu, também, em grande parte, ao fato de que esta nova expressão pensada da fé significou uma articulação íntima com os interesses das classes dominantes.

Poder-se-ia perguntar se nesta operação o pensamento de Aristóteles foi respeitado, se esta era a leitura mais correta dele, mas isto não teria, hoje, mais do que um interesse puramente histórico.

O que ao meu ver é mais interessante de se constatar é que todo este sucesso também teve os seus custos e muito altos. Os seus pontos fortes se tornaram exatamente os seus pontos fracos.

Um desses pontos fortes era a articulação entre fé e razão. A articulação foi feita e não vem ao caso aqui discutir o seu conteúdo, mas verificar o fato que a partir de então ela tornou-se uma camisa-de-força, uma dogmática que somente admitia aperfeiçoamentos, mas não questionamentos quanto aos seus fundamentos e ao seu conteúdo essencial. Uma determinada forma histórica de razão foi articulada com uma determinada interpretação do cristianismo e o produto disto foi alçado à condição de verdade meta-histórica. A ignorância - inevitável naquele momento - da determinação social do pensamento levou a considerar aquele produto não como um dos possíveis discursos, mas como o discurso verdadeiro.

Um outro ponto forte era a harmonia que se estabeleceu entre a ideologia religiosa e a ideologia político-social dominante, permitindo uma ampla difusão da doutrina cristã, escudada nos aparelhos do Estado. No entanto, esta aliança político-ideológica entre a Igreja e o Estado contribuiu para configurar um cristianismo não apenas de fato, mas com todo um embasamento teórico, comprometido com a alienação, a dominação e a exploração. Este comprometimento era tanto mais poderoso porque articulado com um discurso de defesa de valores humanos abstratamente concebidos (Veja-se a última Instrução do Vaticano sobre a Teologia da Libertação).

Um terceiro ponto forte ainda era a garantia que a autoridade religiosa emprestou a este processo para que fosse levado a bom termo, estabelecendo parâmetros que não podiam ser ultrapassados sob pena de exclusão da comunidade cristã. Esta garantia significou, por sua vez, a impossibilidade de trilhar outros rumos que não os estabelecidos pelo discurso dominante, impedindo o surgimento de outras formulações que pudessem dar ao cristianismo uma expressão mais sintonizada com as perspectivas sociais que não fossem as das classes dominantes.

III. O batismo de Marx

Em nossos dias, um outro processo de cristianização se desenvolve com Marx.

Afinal, argumentam os seus defensores, porque não fazer com Marx o que já se fez, e com tanto sucesso, com Aristóteles? Aristóteles também era considerado perigoso para a fé, capaz de destruir e descaracterizar a autêntica mensagem cristã. No entanto, o que sucedeu foi exatamente o contrário. O pensamento aristotélico foi um instrumento válido e adequado num determinado momento histórico; hoje o pensamento marxiano se mostraria mais apto a um novo empreendimento de modelagem da mensagem cristã.

Mas, por que Marx? Um pensador que há até algumas décadas atrás era duramente combatido pela Igreja como materialista, ateu, anti-humanista, pregador do ódio, da luta de classes, da violência, da dissolução do indivíduo na coletividade, destruidor de todos os valores considerados humanos, como a liberdade, o amor, a fraternidade, enfim, radicalmente contrário à genuína mensagem cristã.

É que, apesar da tenaz oposição do discurso teológico cunhado no processo anterior, uma força maior, enraizada na própria realidade histórico-social, cavava o seu caminho e exigia outras respostas.

Fazia-se necessária uma adequação do cristianismo a uma nova realidade marcada medularmente pela emergência do histórico, do político e do social.

Soluções de compromisso foram tentadas pela teologia europeia através de um embasamento filosófico fornecido pela fenomenologia e pelo existencialismo. E ainda estão em curso. Mas a matriz especulativa, forjada no processo anterior, permeava todas essas tentativas, levando-as a desembocar num discurso comprometido - ainda que não conscientemente - com a ordem social dominante.

Ora, uma das questões importantes que a epistemologia contemporânea, especialmente aquela fundada no pensamento marxiano, levantou, é a de que todo discurso é historicamente datado e socialmente determinado; nenhum discurso está acima da história; nenhum discurso está isento da interferência dos valores sociais na sua elaboração, de modo que, então, nenhum discurso pode pretender falar do lugar da verdade absoluta.

Este princípio também seria válido para o discurso teológico-doutrinário, significando que também este não poderia ser um discurso meta-histórico, nem poderia estar livre das influências ideológicas.

O surgimento da Teologia da Libertação veio imprimir um novo rumo ao processo de adequação do cristianismo à realidade histórico-social contemporânea. A TdL significou um deslocamento do eixo de reflexão. Ao invés do eixo filosófico-especulativo, tomou como ponto de partida e fio condutor a práxis histórico-social, categoria também central no pensamento marxiano.

Por aí, o encontro com Marx era inevitável, e, por outro lado, assentava em novas bases. Era inevitável exatamente porque, com todos os seus problemas, o pensamento de Marx se mostrava como a perspectiva mais fecunda para a compreensão da realidade histórica sobre a qual a teologia pretendia se pronunciar. E assentava em novas bases porque o ponto de partida e fio condutor assumido pela TdL distanciava-a profundamente da teologia tradicional e, por outro lado, aproximava-a significativamente da perspectiva marxiana.

Mais ai o conflito que se estabelecera no processo anterior de batismo de Aristóteles, voltou a repor-se com toda força. Este conflito opunha de um lado um determinado discurso teológico doutrinário que parametrava toda discursão aliado a autoridade religiosa como instância ultima da autentica interpretação da fé e de outro lado um outro discurso teológico-doutrinário profundamente diferente e a liberdade de investigação.

Como então, o batismo de Marx está sendo tempestuoso, cheio de debates, polêmicas, acusações de heresia e até, por vias diferentes, o mesmo recurso ao braço secular (pense-se nas acusações de subversão).

E aí está uma das grandes questões levantadas pelo batismo de Marx: o conflito entre a autoridade e a livre investigação.

Não vem ao caso aqui discutir qual a solução deste conflito no âmbito interno da Igreja. Mas vem ao caso perguntar quais as consequências sociais que ele pode ter, e já manifesta, no processo de cristianização do pensamento de Marx.

Em primeiro lugar, a inibição da própria investigação. Esta inibição está claramente expressa numa declaração do teólogo Leonardo Boff no conflito com o Vaticano, quando afirma preferir ficar com a Igreja a arriscar-se sozinho na investigação.

O pensador sente-se compelido pelas exigências da razão e da honestidade intelectual a prosseguir no caminho que lhe parece mais justo, mas encontra as barreiras do discurso oficial e da autoridade.

Posta assim a questão entre um discurso normativo, fundado na fé e um discurso investigativo, fundado na razão, instala-se um conflito insanável que só pode resultar em consequências danosas para a investigação e para a ação dela decorrente. Pois que a produção do saber não é uma questão meramente pessoal, mas de profundas repercussões sociais.

Em segundo lugar, e como consequência disto, na resolução de questões problemáticas, que só poderiam ser dirimidas mediante o prosseguimento livre do trabalho intelectual, gera-se um discurso da ambiguidade e da conciliação, que procura aparar as arestas e evitar os atritos de modo a não ultrapassar os limites estabelecidos.

Exemplo claro desse discurso ambíguo é a recente carta dos irmãos Boff ao cardeal Ratzinger. Como a carta foi escrita de livre e espontânea vontade, pode-se crer que representa efetivamente o pensamento dos autores.

Mas não só nesta carta, como também em outras obras dos teólogos da libertação está presente este discurso da ambiguidade, tornando problemático todo o avanço da investigação.

No caso específico da cristianização do pensamento de Marx poder-se-ia documentar com precisão como a sombra do discurso da autoridade se faz presente para prevenir os desvios da ortodoxia cristã.

Veja-se, por exemplo, o caso da tematização da luta de classes e da violência. A ortodoxia oficial, que já condenou a luta de classes como uma invenção malévola de Marx, hoje avançou até admitir a existência do fenômeno, mas não como constitutivo da realidade social. E quanto à questão da violência revolucionária, o parâmetro ainda é aquele fixado por S. Tomás: recurso legítimo, mas último e em caso de comprovada tirania.

Os teólogos são obrigados a toda sorte de malabarismos intelectuais para escapar de um falso dilema (falso do ponto de vista intelectual) entre a posição oficial da Igreja, da qual discordam e a posição marxiana, que consideram correta e que até em nada conflitaria com o cristianismo coerentemente interpretado à luz dos próprios fundamentos em que assenta a TdL.

O prosseguimento da investigação com esse tipo de conceitos leva a sérios enfrentamentos com a doutrina e a autoridade religiosa, motivo porque, ainda quando utilizados, o são com uma prudência que não nasce do interior do discurso científico mas da autoridade censuradora.

A interrogação que levanto a seguir sobre os rumos que a TdL está imprimindo ao batismo de Marx a partir deste conflito, exigiria uma comprovação - perfeitamente factível - muito mais detalhada desse discurso da ambiguidade, suprimida em favor da brevidade.

Pelo caminho que parece predominar, a TdL que hoje, com todos os problemas que a caracterizam, representa uma inegável tendência para o compromisso com a emancipação da humanidade, poderá levar a um batismo de Marx muito semelhante ao de Aristóteles, ou seja, à elaboração de um discurso teológico travejado por uma perspectiva filosófico-científica denunciadora das injustiças sociais e até incentivadora de uma consciência e de um compromisso de luta bastante fortes, mas incapazes de intervir para uma mudança radical nas estruturas que originam estas injustiças.

Resumindo, eu diria que todo este processo de cristianização de Marx pode (mas não necessariamente) resultar numa adequação do cristianismo à atual etapa histórica do sistema capitalista. Isto porque entre a perspectiva marxiana e a perspectiva teológica tradicional há uma posição radical. Ora, na medida em que esta última é tomada pela TdL como horizonte, a possibilidade de constituição de um discurso cristão revolucionário (no mais legítimo sentido da palavra) é, no mínimo, problemática.

Examinemos por outro ângulo o batismo de Marx.

No caso de Aristóteles, sabemos que o seu batismo teve como pressuposto um estudo intenso de sua obra, ainda que sempre à sombra da autoridade. Aristóteles foi lido e relido, discutido per longum et latum até receber a modelagem final.

O mesmo não está acontecendo com Marx. Um estudo mais sério e aprofundado do seu pensamento ainda está por ser feito pela TdL.

Muitas vezes polemiza-se com Marx quando na verdade se está polemizando com um marxismo de corte estalinista que nada tem a ver com o genuíno pensamento de Marx. Ou então o marxismo que comparece é a interpretação de Marx feita por E. Bloch , ou por Althusser, ou por Gramsci ou pela Escola de Frankfurt.

Duas consequências imediatas surgem daí. Por um lado, a rejeição de determinados aspectos do pensamento de Marx oriundos dessas interpretações. Por outro lado, uma conciliação apressada entre marxismo e cristianismo fundada numa adulteração, ainda que de modo algum intencional, do pensamento de Marx.

A meu ver, a ação política dos setores progressistas da Igreja, que tem muito a ver com a TdL, e que é perpassada pelo espontaneísmo e por um humanismo ainda bastante abstrato, está relacionada (mas não só) com esse processo de cristianização de Marx que resulta de uma conciliação superficial e mal feita entre marxismo e cristianismo.

Sei que a questão posta acima suscita o problema de que, afinal, há muitos marxismos e que não é possível estabelecer qual o autêntico pensamento de Marx. Ainda assim, sou de opinião que uma leitura séria e rigorosa da obra de Marx - que passará até por um confronto com todas interpretações - é o melhor caminho para a compreensão do seu pensamento.

Como disse acima, esta leitura não parece ter sido feita ainda, o que está longe de dizer que nada foi feito. Mas mesmo o que foi realizado é ainda muito problemático.

Esta afirmação também careceria de uma ampla documentação através do estudo das obras dos teólogos da libertação.

Aponto, aqui, apenas um exemplo.

Uma das questões que perpassa a tentativa de cristianização de Marx é o dilema entre filosofia e ciência.

Toma-se como evidente a existência de um corte, no interior do pensamento marxiano, entre filosofia e ciência. A parte filosófica seria o chamado materialismo dialético e a parte científica, o materialismo histórico. A primeira é inteiramente rejeitada e a segunda aceita com reservas. Mas acaba ficando no ar uma interrogação não resolvida: é possível separar uma da outra? Não haveria uma conexão indissolúvel entre as duas?

Ora, a questão da relação entre filosofia e ciências, posta nestes termos não responde ao espírito da obra de Marx. Esse corte poderia ter a ver com Engels, mais ainda com a vertente estalinista, continuada de certo modo por Althusser. Mas não me parece encontrar o menor suporte na obra de Marx. E no entanto esse corte tem profundas consequências sobre todo o entendimento do pensamento de Marx.

Aliás, a própria suspeita que a TdL lança sobre a mediação filosófica, acusando-a de tender a um especulativismo que não ajuda a “morder” o real histórico, antepondo-lhe a mediação científica, levanta uma questão conexa: que filosofia é esta de caráter tendencialmente especulativista? Toda filosofia tem este caráter? Não seria necessário submeter ao crivo da crítica todo o instrumental filosófico que serviu de mediação para a construção do discurso teológico tradicional antes de lançar tal suspeita sobre toda a filosofia?E não teria Marx realizado, não somente na ciência, mas também na filosofia uma virada fundamental? E esse “tournant” filosófico não permitiria pensar a configuração de uma perspectiva filosófica que não tendesse ao especulativismo, mas a uma intervenção transformadora da realidade histórico-social?

A compreensão do sentido e das tarefas da filosofia no pensamento marxiano bem como da articulação entre ciência e filosofia permitiria, a meu ver, uma abordagem muito mais fecunda de inúmeras questões conflitantes entre marxismo e TdL.

Nada disto significa a eliminação dos problemas. Outras questões surgirão. Mas então não serão falsas questões, geradas ou por uma leitura superficial ou distorcida da obra de Marx ou por um discurso da ambiguidade à sombra da autoridade.

Questões semelhantes poderiam ser encontradas em toda a extensão da problemática ontológica, epistemológica, da filosofia da história, da antropologia filosófica e da filosofia política para não falar da leitura científica da realidade histórico-social tomada como mediação pela TdL.

A TdL pretende superar Marx, isto é, fazer um uso não servil do seu pensamento, no dizer de Leonardo Boff. O que é um direito que lhe assiste. Mas, a meu ver, o melhor meio para superar (no sentido hegeliano) qualquer autor não é contornando os problemas postos por ele, nem deformando o seu pensamento, mas enfrentando-o diretamente e levando-o, com toda honestidade, até as últimas consequências.

Sei que esse desideratum tem a sua tessitura realizada para além das vontades individuais e enfrenta todos os percalços da luta ideológica que perpassa a realidade histórica, mas ainda assim permanece como um desafio para aqueles que acreditam que marxismo e TdL têm contribuições importantes a dar no processo de emancipação da humanidade.

Marx certamente será batizado, apesar dos temores e resistências de largos setores da cristandade. Os rumos deste processo é que ainda estão em aberto. E certamente não é indiferente para a libertação da humanidade que caminhos trilhará essa cristianização.

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TONET, I. “O batismo de Marx”. In: Dialética em Questão. Campinas: IFIL/PUCCAMP, 1986.
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