segunda-feira, 30 de março de 2020

A irracionalidade das carreatas da morte e a necessidade de defender uma nova sociabilidade



 Célula de Maringá do PCB-PR

Diante dos primeiros casos confirmados do novo coronavírus no Brasil e das graves consequências que a pandemia está apresentando ao redor do mundo, diversos prefeitos e governadores, seguindo as recomendações das comunidades científicas nacional e internacional, emitiram decretos impondo o isolamento social e a quarentena, restringindo atividades de indústrias, comércios e prestadores de serviço.

Em Maringá, o governo municipal se alinha aos procedimentos dos demais, confrontando os discursos do presidente Jair Bolsonaro. O presidente, com argumentos genocidas, minimiza as características e efeitos já verificados desse vírus e sugere que “o Brasil não pode parar”.

Consideramos corretas as atitudes da administração municipal. Contraposta às trapalhadas do governo federal, ela ganha contornos heroicos, mas não nos deixemos levar: ela apenas institui medidas de isolamento que visam evitar um alastramento catastrófico da epidemia. Apesar das aparências generosas, a administração mantém uma gestão neoliberal e de favorecimentos das elites, ampliando a terceirização dos serviços públicos, precarizando o trabalho dos servidores municipais, fazendo vistas grossas à especulação imobiliária, etc.

De qualquer maneira, está posto que a manutenção da vida dos maringaenses não será a mesma. Comércio fechado e produção reduzida agravam o cenário de uma crise econômica que vem se desenvolvendo mundialmente há uma década, acentuando-se no Brasil nos últimos 5 anos. Políticas públicas de caráter imediato, como a renda mínima, se mostram necessárias, mas não suficientes. Objetivamente, o cenário que se esboça para muitos é a perda de seus empregos ou de seus negócios. Pouquíssimos sairão ilesos economicamente dessa prática de mercado liberal.

Empresários e profissionais autônomos, cada vez mais pressionados pela crise econômica e encorajados pelas declarações do presidente da República, saíram em carreata pelas ruas de Maringá, e em várias outras no Brasil, pedindo o fim dos decretos de isolamento. É preciso conter essa insanidade, mas também compreendê-la. Formados dentro da perspectiva capitalista e neoliberal, que defende a mínima intervenção estatal, naturaliza a exploração dos trabalhadores e entende a prosperidade como conquista individual, esses sujeitos enxergam no retorno das atividades a única saída para a situação econômica calamitosa. A recusa em aceitar as evidências científicas que apontam a validade do isolamento social e da quarentena é um dos reflexos do pensamento neoliberal, pois não querem conceber uma solução para a crise a partir da organização da economia em favor da vida, com políticas direcionadas principalmente aos trabalhadores e pequenos comerciantes, cujas perdas serão muito maiores do que a dos grandes empresários.

Com base nas evidências, não é possível defender racionalmente a saída do isolamento social neste cenário pandêmico. Mas também não é possível ignorar que nossa forma de organização social, se mantida nos moldes atuais, poderá gerar respostas cada vez mais irracionais às contradições e aos limites colocados à nossa existência.

Assim, acreditamos que o debate sobre a planificação da produção e a organização dos trabalhadores para definir esses rumos deve voltar à ordem do dia. Não só para discutirmos sobre o que produzir, em qual quantidade e de que forma, mas também para conhecermos o circuito do dinheiro: Por onde ele circula? Por quais mãos ele passa? A quem ele favorece no mercado de trocas? Conhecendo mais dessa dinâmica, evitamos as respostas intuitivas, marcadas desde cedo em nossa formação pela ideologia liberal.

Se o poder estabelecido se recusa a pautar essa bandeira, é hora do conjunto da população se organizar para tal!

Lutar, criar, poder popular!
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