por Achilles Delari Junior
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A psicanálise mostra suas tendências
profundamente estáticas e não dinâmicas,
conservadoras, antidialéticas e anti-históricas.
(Vygotski, 1927/1991, p. 299)
(Vygotski, 1927/1991, p. 299)
Sobre a natureza desse trabalho
Este texto é uma versão ampliada de postagem que fiz no dia 2 de dezembro de 2009, na lista XMCA[1] do LCHC “Laboratory of Comparative Human Cognition”. Tal postagem referia-se a que, em tópico nomeado “sobre emoções” (about emotions), fora feita menção a Vigotski ser simpático a Freud, por sua abordagem “histórica” ao ser humano. O que talvez se pautasse em uma noção de “história” como percurso cíclico da vida mental individual, no qual o ser humano passa por diferentes fases psicossexuais e/ou as repete — na visão do psicanalista. Contudo, como disse naquele fórum, tenho algumas contestações iniciais quanto ao papel que Freud poderia ocupar numa “teoria das emoções” que atendesse aos rigorosos critérios críticos de Vigotski para a temática. Contestações que desejo partilhar com o leitor, solicitando sua réplica crítica para aprofundarmos a discussão.
Tais contestações são reflexo e refração da minha própria trajetória de estudo dos dois autores, um deles (Freud) bastante lido e ensinado no curso de graduação em psicologia, em várias disciplinas obrigatórias, e outro (Vigotski) apropriado sempre parcialmente num percurso autodidata à revelia das instituições de ensino. O que, certamente, evidencia meus limites pessoais e históricos na formulação do problema e dá espaço às correções necessárias por parte do leitor com maior domínio do projeto de Vigotski para a psicologia. Sendo assim, exporei primeiro os motivos de minha “desconfiança”, levantando indícios de profunda oposição teórica e metodológica de Vigotski frente a Freud (parte I). Num segundo momento, retomarei algumas áreas de contato entre os dois autores, as quais não mostram haver, mesmo assim, qualquer acordo metodológico central entre eles (parte II). Por último, retomarei posições de dois diferentes momentos históricos do próprio Vigotski quanto ao que ele mesmo pensava sobre ser ou não “histórica” a abordagem psicanalítica (parte III).
Não é impossível um diálogo póstumo entre estes autores que eles não tenham sugerido ou almejado em vida. Ligações inusitadas são possíveis e desejáveis, já que os significados sociais para o que disseram não podem estar todos sob seu próprio domínio. A réplica social para suas palavras repercute no “grande tempo” e em diálogo elas nunca morrem. Mas vale lembrar, em primeiro lugar, que diálogo não é algo que façamos apenas quando desejamos concordar ou receber aprovação. Vigotski, por exemplo, mostra-se sempre atento aos seus oponentes intelectuais, bem mais do que estes à sua obra, mas nisso, via de regra, procede por antítese e com ironia — seja “socrática”[2] ou não. Em segundo lugar, já vêm sendo propostos vários “diálogos dos mortos”[3], críticos ou ingênuos, entre Vigotski e outros autores, desde os mais “questionados” (como entre Vigotski e Piaget) aos mais “consensuais” (como entre Vigotski e Bakhtin) — não havendo o que opor a tal prática.
Seja como for, a questão aqui não é determinar, a qualquer custo, se a metafísica de Freud tem, objetivamente, algo a acrescentar à dialética de Vigotski ou não. Partamos do princípio de que se o desejo do pesquisador for criar convergências, nas condições históricas das ciências humanas hoje, sempre poderá realizá-lo, num quadro teórico “autossuficiente”. Todavia, não me proponho a dar contraprova da possibilidade ou legitimidade de fusões ecléticas, mas apenas a explorar algo do que o psicólogo bielorrusso pensava sobre elas. Desta maneira, sendo o próprio pensamento vigotskiano o objeto de nossa curiosidade, o leitor não encontrará aqui uma revisão às obras de Freud, a qual pode obter em abundantes fontes de autoria de seus seguidores e/ou admiradores — em sua grande maioria, totalmente alheios às contribuições de Vigotski e do materialismo dialético.
Como nos disse a psicóloga social Lucília Reboredo: “para haver diálogo é preciso que haja diferença”. Acentuar diferenças é o modo que encontro aqui para evitar certa tendência a omitirmos nosso posicionamento ético e político no debate entre posturas epistemológicas distintas, para não dizer antagônicas, já comum no eclético e conservador cenário dito pós-moderno — noite política e cultural, na qual todos os discursos são pardos.
I. Posições antagônicas centrais de Vigotski frente a Freud
1. Em 1931-33: “Teoria das emoções: um estudo histórico-psicológico”
A obra “Teoria das emoções” foi escrita e reescrita por Vigotski ao longo de vários anos, entre 1931 e 1933, contemplando a crítica de algumas das principais concepções sobre este tema em sua época. Entretanto, é interessante lembrar que em todo o texto, cuja edição hoje conhecida[4] contém vinte capítulos, Freud é citado em apenas duas ocasiões: (1.1) no capítulo 18, como um “discípulo involuntário de Descartes”; e (1.2) no capítulo 19, numa alusão alegórica a um chiste relatado pelo primeiro.
1.1. Freud como discípulo involuntário de Descartes
No capítulo 18, Vigotski lembra que para Descartes as “paixões da alma” são exclusivamente humanas, ausentes nos animais, desprovidos de alma. Em seguida, critica diferentes tendências que continuam vendo as emoções propriamente humanas como algo dissociado do corpo, dos processos fisiológicos[5]. Dentre elas estão o organicismo de James/Lange e as proposições metafísicas de Freud e Scheler/Lotze, todos considerados, cada qual ao seu modo, “discípulos involuntários de Descartes”[6] (Vygotski, 1931-33/ 2004, p. 211). Algo do dualismo de Freud residiria em seu entendimento de que não é necessário conhecer as vias nervosas para compreender, por exemplo, o que é o medo.
Encontra-se neste autor o reconhecimento de características orgânicas que proporcionam o tônus fundamental do afeto, mas não se deduz que sejam a “substância” do afeto. Portanto, deduz-se que a “psicologia profunda dos afetos”, representada por Freud, os definiria como da ordem de outra substância que não a matéria. Segundo Vigotski,
o intuito de preservar um exame puramente causal dos fatos psicológicos e, ao mesmo tempo, de não levar à ruína a psicologia considerada como uma ciência autônoma e de não por seus problemas nas mãos da fisiologia, obriga a psicologia profunda a reconhecer a absoluta independência substancial dos processos psíquicos e a autonomia da causalidade psíquica (Vygotski, 1931-33/2004, p. 215).
Em dado momento, a busca inicial de Freud por um determinismo orgânico teria sido substituída pela postulação de um determinismo psíquico, prescindindo de explicações neurofisiológicas, tornando-se para ele inclusive desnecessário debater com James e Lange (ver Vygotski, idem). Em suma, Freud é visto por Vigotski como tão metafísico quanto Scheler e Lotze. Contudo, se estes representam uma metafísica “teísta”, a do psicanalista seria “pandemoníaca”, valendo-se de “imagens do reino subterrâneo, do inferno e das profundidades extremas” (Vygotski, 1931-33/2004, p. 217). Sua psicologia buscaria “elucidar o enigma (...) nas profundidades metafísicas do espírito humano — na vontade[7] de Schopenhauer” (idem, p. 216). Temos a impressão de que aqui a teoria das emoções de Freud não está sendo elogiada, tampouco aceita. Muito mais crédito é dado, neste capítulo, ao anônimo Chabrier[8], por exemplo, com suas pistas sobre relações entre emoções e consciência, ideologia, cultura, história e personalidade (ver Vygotski, 1931-33/2004, p. 212, 213 e 218).
1.2 Freud como fonte de alegoria para criticar Dilthey
No capítulo 19, Freud é citado de modo puramente alegórico por Vigotski, quando este se refere ao caso de um chiste relatado pelo primeiro para dar seguimento a um argumento mais geral, criticando Dilthey por este autor misturar teses de conteúdo distinto.
Assim, a mescla de três afirmações distintas quanto ao seu conteúdo recorda de maneira surpreendente a lógica da história a que se refere Freud em seu estudo sobre o chiste. Uma mulher que a sua vizinha acusa de haver quebrado uma panela que lhe havia emprestado, expõe, para justificar-se e para ser mais convincente, três argumentos de uma vez: “em primeiro lugar — diz — não te pedi emprestado nenhuma panela; em segundo lugar, quando a levei já estava quebrada; em terceiro lugar, a devolvi perfeitamente intacta” (Vygotski, 1931-33/ 2004, p. 226-227 – trad. minha).
Nenhuma explicação e/ou contribuição teórica freudianas são assumidas, nesta passagem, para a compreensão do funcionamento psíquico do chiste, como tal. E as contribuições de Freud sobre as emoções sequer são postas em pauta, nesse momento. A menção é feita apenas de passagem, como recurso retórico, uma figura de analogia entre a inconsistência da lógica de pensamento da mulher acusada pela vizinha e a lógica do pensamento teórico de Dilthey, ao tratar da psicologia dos sentimentos.
Constata-se que em um trabalho de vinte capítulos sobre a teoria das emoções, Vigotski só menciona o pensamento do próprio Freud quando o coloca entre “discípulos involuntários de Descartes”. Ou seja, só o traz à baila como um dentre outros importantes exemplos da postura metodológica dualista que está criticando, ao longo de toda a obra, a partir de outras referências, sobretudo a do monismo de Espinosa. Não sabemos dizer exatamente quando, entre 1931 e 1933, os capítulos 18 e 19 foram escritos. Podemos apenas constatar que este seja um momento histórico já avançado no desenvolvimento do pensamento de Vigotski. Entretanto, desde antes ele já vinha definindo algumas bases epistemológicas para tal posicionamento crítico, como veremos a seguir.
2. Em 1927: “O significado histórico da crise da psicologia”
Na obra “O significado[9] histórico da crise da psicologia”, de 1927, Vigotski menciona Freud várias vezes. Contudo, podemos notar que, na maioria delas, ele o faz em função não tanto de criticá-lo diretamente, quanto no de rejeitar metodologicamente várias tentativas de fusão epistemológica entre marxismo e psicanálise — uma delas do próprio Luria, em artigo de 1925, publicado na coletânea “Psicologia e marxismo”, organizada por Konstantin Kornílov (ver LURIA, 1925/2002). A rejeição categórica a tais tentativas ocorre com base nos seguintes argumentos, dentre outros: (2.1) a inconsistência de se tratar a obra de Freud como “monista” e/ou “materialista”; (2.2) a presença de uma forte adesão de Freud a concepções metafísicas; e (2.3) a presença de um destacado reducionismo da psicanálise também no campo prático.
2.1 Sobre a fragilidade da defesa de um monismo em Freud
Para mostrar o caráter frágil dos argumentos a favor de um suposto “monismo” em Freud, Vigotski destaca que seu “materialismo médico” é bem distinto do “materialismo dialético” próprio da psicologia marxista. O primeiro pode conviver com concepções metafísicas, enquanto o segundo visa superá-las. Assim, rejeita abertamente a posição de Zalkind:
Mas vejamos o suposto monismo da psicanálise, com o qual Freud não haveria estado de acordo. Onde, em que palavras, com que motivo, se passou ao terreno do monismo filosófico a que se refere o artigo [de Zalkind]? Seria que toda a redução de um certo grupo de fatos à unidade empírica é monismo? Ao contrário, Freud reconhece sempre o psíquico, é dizer, o inconsciente como uma força especial, que não pode reduzir-se a nenhuma outra. Ademais, por que este monismo [seria] “materialista” no sentido filosófico? O materialismo médico (que reconhece a influência de órgãos isolados, etc., nas formações psíquicas) está ainda no terreno da filosofia idealista (Vygotski, 1927/1991, p. 229).
O fato de Freud, como médico, reconhecer o caráter material dos processos orgânicos elementares, não faz dele “materialista” nem “monista” no sentido filosófico, ontológico e epistemológico. Vigotski não cobra de Freud que este seja um pensador monista, já que ele não se propunha a isto, mas está colocando em xeque o argumento freudomarxista de que é possível incorporar Freud com base no preceito equivocado de seu suposto “monismo”. Vê-se que o dualismo de Freud enfatizado em “Teoria das emoções”, já era abertamente constatado aqui, em 1927.
2.2 Sobre as bases metafísicas de Freud
Quanto às bases metafísicas de Freud, no texto sobre a “Crise”, destacam-se principalmente as influências de Lipps[10] e de Schopenhauer[11]. Quando ao primeiro, Vigotski explicita que
todos os conceitos principais do sistema psicológico de Freud remontam a T. Lipps. Os conceitos de “inconsciente”, de “energia psíquica ligada a determinadas representações”, das pulsões como base da psique, da luta das pulsões e das transferências, da natureza afetiva da consciência, etc. Com outras palavras, as raízes psicológicas de Freud se adentram nas capas espiritualistas da psicologia de Lipps. Como cabe não ter isto em conta para nada falar da metodologia de Freud? (Vygotski, 1927/1991, p. 300).
Com relação a Schopenhauer a advertência epistemológica não é menos severa:
É um fato (não só não desmentido, senão que sequer analisado pelos autores da “coincidência”) que a doutrina de Freud sobre o papel primário das paixões cegas, papel que se reflete de forma inconsciente e desvirtuado na consciência, remonta diretamente à metafísica idealista da vontade e às representações de Schopenhauer. Em suas conclusões mais extremas, o próprio Freud assinala que se acha perto de Schopenhauer. Mas também em suas premissas fundamentais, assim como nas linhas determinantes de seu sistema, está ligado à filosofia do grande pessimista, como pode por de manifesto a análise mais simples. (Vygotski, 1927/1991, p. 299).
Vigotski, deste modo, busca mostrar tanto que várias ideias tomadas como inovações trazidas por Freud não são tão originais assim; quanto que tal autor, não faz questão de se opor à tradição metafísica à qual se filia, embora alguns marxistas russos o quisessem colocar em um lugar que ele mesmo não desejou assumir.
2.3 Questionamento quanto à aplicação prática da psicanálise
Por fim, Vigotski também questiona campos de aplicação “prática” da psicanálise, não tanto quanto às suas técnicas terapêuticas, quanto à aplicação das especulações geradas para tentar dar conta delas, quando transpostas indiscriminadamente aos mais diferentes campos da cultura e da vida social. Dessa maneira:
também em seus trabalhos “práticos”, a psicanálise mostra suas tendências profundamente estáticas e não dinâmicas[12], conservadoras, antidialéticas e anti-históricas. Reduz os processos psíquicos superiores — individuais e coletivos — diretamente a raízes que evoluíram pouco, primitivas, em essência pré-históricas, pré-humanas, sem deixar espaço à história. A obra de F. M. Dostoiévski se analisa do mesmo modo que os totens e tabus das tribos primitivas; a igreja cristã, o comunismo, a horda primitiva, tudo isso procede, em psicanálise, da mesma fonte. Que tais tendências se encontram na psicanálise o testemunham todos os trabalhos desta escola que tratam dos problemas da cultura, da sociologia, da história. Comprovamos, portanto, que não segue, senão nega, a metodologia do marxismo. Mas sobre isto, nem mais uma palavra (Vygotski, 1927/1991, p. 299-300).
Como veremos a seguir, essa profunda rejeição de Vigotski ao reducionismo freudiano já era anunciada, dois anos antes em seu livro “A psicologia da arte”, de 1925.
Concluindo nossas considerações sobre esta obra de 1927, cabe relembrar que ela pode, grosso modo, ser situada num período intermediário no desenvolvimento do pensamento de Vigotski. Entretanto, nota-se que aqui algumas diretrizes epistemológicas importantes já são indicadas. E o lugar dado então para a teoria de Freud na psicologia marxista, na visão de Vigotski, é o de um franco oponente no campo epistemológico. Embora uma ou outra questão levantada por ele possa ser bem recebida por Vigotski, as respostas dadas a elas, dentro do sistema filosófico geral da psicanálise, sua visão de mundo, não são acolhidas com o mesmo entusiasmo. O que será retomado com mais detalhes na “parte II”.
3. Em 1925, na “Psicologia da arte”
Voltando um pouco mais no tempo, notaremos que Freud foi citado bem mais em “Psicologia da arte” do que em “Teoria das emoções”. O primeiro também foi um trabalho de muitos anos, concluído em 1925, num período em que, segundo alguns autores, o referencial principal de Vigotski em psicologia ainda era “reflexológico”[13] (ver Veresov, 1999). Ademais, mesmo que se situe este livro num momento pouco amadurecido da produção teórica de Vigotski, já encontramos nele críticas severas a Freud, em torno de questões teóricas importantes. Vigotski recusa de modo enfático alguns princípios fundamentais para o quadro referencial freudiano, como, por exemplo: (3.1) o pansexualismo; (3.2) o infantilismo; e (3.3) a interpretação energética.
3.1 A ideologia “pansexualista” de Freud
“Pansexualismo” é a tendência a conceber qualquer aspecto do funcionamento psíquico como manifestação de uma só “energia” dita “sexual”[14]. Alguns leitores de Freud alegam, em sua defesa, que para tal autor “não é tudo sexual”, no sentido de “genital” — o que é óbvio, pois nem mesmo ele chegaria a tal ponto. Mas é uma saída ingênua, pois a crítica não é a um “pangenitalismo”, mas sim à visão de que mesmo experiências vitais bem diferentes das genitais sejam entendidas como de natureza igualmente “sexual” — pela “energização” de “zonas erógenas” distintas, por exemplo. Desse modo, todo o psiquismo humano poderia ser concebido em termos da dinâmica de uma energia “sexual”, sua repressão e sua canalização, saudável ou patológica, para as mais diferentes ou mesmo opostas atividades. Nesse tipo de generalização teria incorrido Freud também em sua análise de obras de arte. Segundo Vigotski,
surge então uma impressionante lacuna na teoria psicológica (...). Como pode ela interpretar a música, a pintura decorativa, a arquitetura, tudo em que é impossível fazer a tradução erótica simples e direta da linguagem da forma para a linguagem da sexualidade? (Vigotski, 1925/1999, p. 96).
Mais tarde, Vigotski dirá que um erro no desenvolvimento dos conceitos psicológicos reside justamente neste processo pelo qual uma explicação válida para situações particulares, como alguns casos clínicos de Freud, generaliza-se para as mais diversas realidades[15] (arte, religião, política, quiçá a pedagogia...) como se fosse lei universal, tornando-se uma “ideologia” (Vygotski, 1927/1991 – 271 e 272).
3.2 O reducionismo do “infantilismo” em Freud
“Infantilismo” é a tendência a reduzir a explicação dos atos humanos a estruturas mentais definidas na infância, sobretudo pela estruturação do dito “complexo de Édipo”[16] — conceito de Freud no qual o mito grego é lido de acordo com sua visão e interesses. Vigotski entende que “no estudo sobre Leonardo da Vinci, Freud tenta deduzir todo o destino e toda a obra deste artista das emoções [perejivaniia] básicas da infância” (Vigotski, 1925/1999, p. 94). Sugerindo que para tal autor
cada indivíduo está preso ao seu complexo de Édipo e que, nas formas mais complexas e elevadas de nossa atividade somos forçados a vivenciar mais e mais o nosso infantilismo e, assim, a mais elevada criação fica fixada em passado remoto. É como se o homem fosse escravo da sua infância, como se passasse toda a vida resolvendo aqueles conflitos que se criaram nos seus primeiros meses de vida (idem, p. 94-95).
Tal contestação se intensifica quando a relação entre criação artística e trajetória biográfica de Dostoiévski é comentada. Pois para alguns psicanalistas
em Dostoiévski viveu e criou um eterno Édipo. Acontece, porém, que se considera como lei fundamental da psicanálise a afirmação de que Édipo vive em exatamente cada indivíduo. Significa isto que, mencionando Édipo, nós resolvemos o enigma de Dostoiévski? Por que devemos admitir que os conflitos da sexualidade infantil, os choques da criança com o pai foram mais influentes na vida de Dostoiévski do que todos os traumas e emoções [perejivaniia] mais tardios? Por que não podemos admitir, por exemplo, que emoções [perejivaniia] como a espera da execução, os trabalhos forçados, etc. não puderam servir de fonte para novas, complexas e angustiantes emoções [perejivaniia]? (Vigotski, 1925/1999, p. 95).
Tanto pansexualismo quanto infantilismo psicanalíticos, impedem-nos de ver e ressaltar que é próprio da criação artística singular de Dostoiévski ou da Vinci, nivelando-as com quaisquer produções comuns.
3.3 O reducionismo da “interpretação energética” em Freud
A “interpretação energética” diz respeito à tendência metateórica freudiana, ligada ao pansexualismo, em tratar questões relativas ao funcionamento do psiquismo humano como redutíveis ao seu aspecto energético inespecífico, universal, mesmo que não sempre se tenha claro de que natureza seria tal “energia”, em sua materialidade[17]. Entretanto, sendo tudo no psiquismo humano questão de “energia”, os processos semânticos dos mais distintos seriam todos diferentes manifestações de uma só realidade. Vigotski, nesse momento histórico não deixa de concordar, por exemplo, com haver uma contribuição de Freud com relação a determinadas vivências [perejivaniia], com a qual atinaria seu próprio entendimento quanto ao papel da catarse na reação estética (o que retomarei na parte II). Entretanto, uma correção fundamental deveria ser feita a Freud: “abandonar sua interpretação energética”.
São bem mais interessantes os resultados do chiste, do humor e da comicidade obtidos por Freud. Achamos um tanto arbitrária a sua interpretação energética de todas as três modalidades de emoções [perejivaniia], que acaba por reduzi-las a certa economia, à perda de energia, mas se abandonarmos essa interpretação energética não poderemos deixar de concordar com a grandiosa precisão da análise de Freud (Vigotski, 1925/1999, p. 295).
A despeito da hipérbole da “grandiosa precisão”, nota-se que mesmo que determinado resultado da investigação de Freud aqui seja aceito como útil, seu modo mais geral de compreender tal resultado deve ser “abandonado” para que se possa fazer um bom proveito dele. Resta perguntar: se entender a psicanálise como sistema “monista”, que não pretende ser, constitui-se em erro metodológico, não seria também um equívoco tentar concebê-la sem a “interpretação energética”? Sem isto ela não deixaria de ser “psicanálise”, nos termos em que Freud a concebia?
Cabe destacar que “Psicologia da arte” é o resultado de uma investigação pautada no método “objetivo-analítico” e visa tratar da objetividade das relações contraditórias entre conteúdo-forma organizadas pelo autor na estrutura da própria obra literária (ver Vigotski, 1925/1999), com base numa dada tradição estética, social e historicamente constituída. Portanto, tal método recusa o psicologismo, que veria as explicações para a obra no psiquismo individual do autor ou de quem frui o seu trabalho. Psicologismo que, por sua vez, se constitui no principal modo de interpretação pelo qual a psicanálise vê a arte: uma forma de “sublimação” de tendências individuais reprimidas, que precisam se realizar de algum modo “socialmente aceito”.
Mesmo que, como veremos em seguida, Vigotski se aproxime de algumas ideias de Freud quanto à função da catarse na reação estética, entendo que as raízes desse ponto em comum podem ser buscadas em fontes anteriores, partilhadas por ambos. Pois não constituem, em absoluto, um achado original de Freud, nem precisam ser abordadas de acordo com sua visão de mundo e de homem, radicalmente opostas às de Vigotski.
II. Algumas periféricas posições favoráveis de Vigotski frente a Freud
Chamarei tais posições favoráveis de “periféricas”, não por que não sejam válidas ou aproveitáveis, mas apenas porque não mostram alterar o núcleo teórico e epistemológico da contribuição de Vigotski. São periféricas com relação ao antagonismo nuclear e de princípios entre este autor e a psicanálise, cujas pistas expusemos na parte I. Como os leitores de Vigotski já têm conhecimento, há um elogio feito por ele a Freud com relação à sua intuição quanto à importância da morte na definição da própria vida humana — o que ele responde com a noção, bastante metafísica, de “pulsão de morte”. Já destaquei tal elogio em outros lugares (Delari Jr., 2001; 2009b). Contudo, cabe não vê-lo de modo ingênuo, como uma concessão ao ecletismo típico do freudomarxismo. Aquilo que se coloca como elogio no mesmo momento se constitui como crítica, numa ironia sutil: “a ciência também tem necessidade desses livros: livros que não descubram a verdade, mas que ensinem a buscar a verdade, ainda que não a tenham encontrado” (Vygotski, 1927/1991, p. 303).
Claramente, Vigotski só assume que Freud faz uma boa pergunta, não que apresente resposta satisfatória. Portanto, o interesse não está, de modo algum, na concepção psicanalítica como tal, mas no objeto com relação ao qual ela está tateando cegamente. Tal elogio à pergunta de Freud sobre a importância da morte para a vida aparece tanto no texto da “Crise da psicologia”, quanto em publicação anterior assinada com Luria – um “Prefácio à edição russa de ‘Para além do princípio do prazer’”[18] (Vygotsky & Luria, 1925/1994). Cabe destacar ainda que, em 1927, importância dada à intuição de Freud, está aliada ao resgate da afirmação dialética de Marx e Engels de que “viver é morrer” (apud Vygotski 1927/1991, p. 303). Mas, ao menos nas obras aqui apresentadas, ainda não vimos Vigotski qualificar a abordagem freudiana exatamente como “dialética”.
Outra aparente aproximação entre estes autores também ocorre na “Psicologia da arte”. Trata-se da menção à noção assumida por Vigotski, também aceita parcialmente por Freud, de que as emoções são processos conscientes para o ser humano. Contudo, duas considerações talvez devessem ser feitas frente a isso. A primeira é a de que o próprio modo pelo qual Vigotski concebe as emoções, sejam todos os seus aspectos conscientes ou não, é bastante diferente do de Freud, como vemos em seu capítulo 18 de “Teoria das emoções” (comentado na parte I).
A segunda é a de que as relações entre consciência e afetos, no que diz respeito, por exemplo, ao “caráter afetivo da consciência”, não é algo originalmente proposto por Freud, senão antes também por Lipps (ver Vygotski, 1927/1991). Portanto, mais uma vez, isto não viria a ser uma semelhança profunda, nem critério de aproximação efetiva entre as abordagens específicas dos dois autores. Algo assim também ocorre no que diz respeito ao tema da “catarse”, tratado por Vigotski no capítulo nove de sua “Psicologia da Arte” (Vigotski, 1925/1999). Contudo, antes de se dizer algo de categórico sobre tal assunto, caberia lembrar que esse conceito remete também à tradição ancestral da dramaturgia grega, sobretudo sistematizada por Aristóteles. Nesta tradição, a catarse já é vista como processo de purificação promovido pela fruição da obra de arte, notadamente a tragédia[19], cujas estruturas formais são descritas no livro “Arte poética”, escrito há mais de 300 anos antes da nossa era (Aristóteles, 1979).
Cabe lembrar ainda que no capítulo 9 de “Psicologia da arte” dedicado à “Arte como catarse”, Vigotski também dialoga com vários outros autores além de Freud[20], muitos deles citados de forma elogiosa, não havendo, a rigor, qualquer destaque especial para o psicanalista. Mas ali há algo de contraditório no próprio argumento de Vigotski ao tentar ver a catarse como “descarga energética”, o que não condiz com o que dirá no capítulo 10, negando a “interpretação energética” de Freud sobre o chiste. Vigotski avança mais quando busca o que há de especificamente humano na arte. A busca pelo “que há de humano no homem”[21] será a vocação de todo seu projeto posterior em psicologia e seu principal legado às gerações futuras.
Mesmo que a “purificação” promovida pela catarse pudesse ser, em parte, uma descarga de energia nervosa (que não diz ser “sexual”), continuaria sendo fundamental compreender a especificidade/singularidade das relações forma-conteúdo que podem conduzir a tal transformação social dos sentimentos do leitor. Seja no entendimento do que diferencia a fábula, o conto e a tragédia; seja na distinção entre uma tragédia de Sófocles e uma de Shakespeare. De modo que, novamente, a suposta semelhança entre Freud e Vigotski demonstra apresentar-se por via secundária, não por identidade epistemológica radical. Há um tema, um objeto de estudo, em comum, mas não exatamente o mesmo modo geral de situá-lo e tratá-lo teoricamente.
Por fim, cabe destacar que existe, é verdade, uma série de alusões elogiosas a Freud na “Psicologia pedagógica” (Vigotski, 1924/2003; 1924/2004). Valsiner e Van der Veer (1991/1996) já levantaram um questionamento sobre isso dever-se ou não ao fato de o livro ser apenas um manual didático para estudantes de ensino médio, devendo, portanto, mais apresentar a lógica interna de cada teoria do que discuti-las criticamente. Apesar de esta não ser a única hipótese, soa como a mais plausível, já que no mesmo livro também Pavlov é bastante citado e de modo tão elogioso quanto Freud. Nem por isso se toma hoje a adesão de Vigotski a Pavlov como tão importante a ponto de necessitarmos resgatá-lo para melhor desenvolver a perspectiva histórico-cultural em geral, ou sua teoria das emoções em particular.
Não assumirei a mesma postura que Kozulin (1990) quanto a este livro, uma vez que tal autor demonstra “desconfiar” com mais desdém da necessidade de Vigotski aderir às ideias de Trotski, naquele momento, do que da ausência de crítica com relação a Pavlov e Freud. De todo modo, concordo com aquele estudioso na avaliação de que seja uma obra sui generis na trajetória intelectual de Vigotski. É um livro que tem insights interessantes para a prática pedagógica ainda hoje, como no tema do “desenvolvimento moral” e da “educação estética”, e um valor histórico para a compreensão do pensamento reflexológico de Vigotski na época. Mas não é bem uma obra na qual se encontre profunda aliança teórica entre ele e Freud em psicologia geral, tampouco em teoria das emoções.
III. Posição explícita de Vigotski quanto ao pensamento a-histórico de Freud
O que expus nas duas partes anteriores constitui o corpo das principais referências de Vigotski a Freud com as quais pude me deparar ao longo dos últimos anos. Citar outros textos importantes de Vigotski em que Freud sequer é mencionado, não é o meu objetivo aqui. Para avaliar a abrangência da bibliografia citada o leitor deverá pesar a dificuldade de adquirirmos várias obras essenciais de Vigotski no Brasil — o que nunca ocorreu com as de Freud, amplamente traduzidas, publicadas e, sobretudo, vendidas, em todo país, mesmo em tempos de ditadura. Além de tais referências, apenas duas outras menções eu poderia fazer, a título de lembrança. Uma quanto à referência eventual de Vigotski à ideia de que o inconsciente pode ser visto não só como processo “apartado da consciência”, mas também como uma “grandeza derivada do desenvolvimento e da diferenciação da consciência” (Vigotski, 1934/2001, p. 288).
Também nada que se diga estar em profunda aliança com a psicanálise. E, por último, a discussão epistemológica feita por Vigotski sobre o problema do inconsciente relativo à definição do objeto da própria psicologia. Algo que aparece no texto “A psique, a consciência e o inconsciente” (Vygotski, 1930/1991), mas não está também em função de uma adesão direta às contribuições de Freud, senão de uma análise do problema em diferentes autores, inclusive no próprio Lipps, cuja posição metafísica é destacada em “A crise da psicologia”. Ademais, como se sabe, o objeto da psicologia por excelência, para Vigotski, até o final de sua vida, permanecerá sendo a “consciência” — o que há de especificamente humano em nosso psiquismo, o macrocosmo da palavra significativa.
Deste modo, até constatar o contrário, mantenho minhas dúvidas quanto a haver qualquer papel especial para Freud na teoria das emoções de Vigotski, quanto a isso ser de fato relevante ou necessário para a formulação do seu projeto de investigação neste campo. Pelo contrário, o próprio Vigotski é quem contesta a possibilidade de ter a psicanálise uma visão compatível com o projeto geral da psicologia marxista, indicando que a noção ventilada de que a simpatia vigotskiana pela psicanálise residiria no caráter histórico da mesma, carece de fundamento documental, quando não de fundamento lógico. Mesmo que saibamos que o modo de pensar de Vigotski se transforma ao longo dos anos, e isso é fato, não constatamos mudança radical quanto ao cerne da posição deste autor sobre a psicanálise no período de 1927 a 1934. Em 1927, no livro já citado sobre a crise da psicologia, ele já afirmava que “a psicanálise mostra suas tendências profundamente estáticas e não dinâmicas, conservadoras, antidialéticas e anti-históricas” (Vygotski, 1927/1991, p. 299). Em dezembro de 1932, por ocasião de seminários internos e avaliação de trabalhos de seu grupo, Vigotski volta a dizer, de modo abreviado:
a psicologia profunda[22] afirma que as coisas são o que eram. O inconsciente não evolui — esta é uma descoberta extraordinária. Os sonhos resplandecem com luz reflexa, à semelhança da Lua. Isto se desprende de como interpretamos a evolução. Como transformação do que há sido desde um princípio?[23] Como nova formação? Então o mais importante será o último (Vygotski, 1932/1991, p. 130).
Difícil entender que “descoberta extraordinária” não seja uma ironia, nem tão “socrática”, aliás. Já que toda a base metodológica de Vigotski consiste em estudar os processos em sua gênese, seu desenvolvimento, sua transformação, sua história. Como seria “descoberta extraordinária” uma visão de que algo em nós continua sempre sendo o que já era antes, em sua natureza mais profunda e universal? Naquelas discussões de seu grupo, Vigotski falava da “psicologia dos cumes (não determina a “profundidade”, mas o “cume” da personalidade)” (1932/1991, p. 130). Nesse sentido criticava tanto a “psicologia superficial” (fenomenológica) quanto a “psicologia profunda” (psicanalítica), que quer explicar o homem por suas profundezas, sua natureza subterrânea.
Já a psicologia dos “cumes”, “elevações”, visa a compreender o ser humano a partir dele mesmo. Como em Marx: “ser radical é tomar as coisas pela raiz, mas a raiz para o homem é o próprio homem” (apud Chasin, 1999, p. 9). Define-se o “próprio homem” como ser social, simbólico e histórico, por excelência — o que a psicologia profunda não demonstra priorizar. Como disse Jerome Bruner (2005), confrontando Freud e Vigotski, temos naquele uma hermenêutica focada no passado, e neste uma concepção de desenvolvimento voltada ao futuro, às formações mais avançadas que emergem/constituem-se mediante a linguagem nas relações sociais. Apenas resta perguntar: retroceder ao paradigma freudiano contribuirá para desenvolver uma teoria que deseja situar as emoções em suas relações constitutivas com a consciência, a história, a ideologia, a cultura e toda a gênese social da personalidade humana?
= = =
Notas:
[0] Este é um material de 2009 que passou por revisão textual e de diagramação. Seu título anterior “Freud na teoria das emoções de Vigotski? Algumas dúvidas quanto a tal possibilidade” foi aprimorado para retratar melhor o caráter incisivo de seu conteúdo e facilitar buscas de quem demanda tal atitude. O teor teórico do texto e seu caráter ensaístico, problematizador, foram preservados. Versão atual concluída em Umuarama-PR, em 12 de janeiro de 2020. Última revisão em 28 de março de 2020. Disponível em: www.estmir.net/delari_2009_crt-lsv-frd.pdf= = =
[1] Sigla para “eXtended Mind, Culture and Activity”. Trata-se de lista de discussão por e-mail, da qual participam pesquisadores de diferentes países, sobretudo alguns ligados à assim chamada CHAT (Cultural Historical Activity Theory), entre outros participantes. O site para acesso à lista está disponível em: http://lchc.ucsd.edu/MCA/index.html
[2] Wertsch (1985) relata que Vigotski teve por tutor Solomon Markovitch Ashpiz, versado na dialética (arte do diálogo) socrática. Esta, por sua vez, é composta de “maiêutica” e “ironia”. Na “maiêutica”, Sócrates trabalha como “parteiro”, auxilia o interlocutor a chegar a novas conclusões “por si mesmo”. Na “ironia” apresenta erros lógicos em sua própria fala, levando o interlocutor a perceber que, pensando assim, incorrerá em erro. Nem sempre as ironias de Vigotski são tão generosas. Às vezes, são recurso retórico ácido, ao estilo de Marx, Engels ou Lênin. Por exemplo: “Essa falha revelada com clareza no estudo de Dostoiévski, desenvolvido por Neufeld: ‘Tanto a vida quanto a obra de Dostoiévski são enigmas... Mas a chave mágica da psicanálise elucida todas as contradições e enigmas: o eterno complexo de Édipo viveu nesse homem e criou essas obras.’ (76, p. 12) Efetivamente genial! Não é chave mágica, mas certa chave falsa da psicanálise com que se pode descobrir decididamente mistérios e enigmas da obra” (Vigotski, 1925/1999, p. 95). Claro que “genial” não pode ser elogio, se a “chave mágica” é “chave falsa”. Noutros lugares a ironia é mais sutil — ver p. 19 deste texto.
[3] “Diálogos dos mortos” são obras de gênero literário próprio da cosmovisão carnavalesca, cuja gênese histórica é estudada por Bakhtin em “Problemas da poética de Dostoiévski” (Bakhtin, 1929/1997). Nestas obras, os autores põem para conversar: pessoas que não o fizeram em vida; que viveram em épocas bem diferentes; e mesmo figuras históricas com personagens mítico-literários. Um clássico desse gênero é “Diálogo dos mortos” de Luciano (1998), uma sátira menipéia, do século II da nossa era.
[4] Quando este material foi redigido em 2009, havia notícias na comunidade acadêmica internacional de que uma primeira publicação da versão completa de tal obra estava prevista para o “volume 12” da nova edição russa das Obras de Vigotski em 15 volumes. Contudo, o volume 1 só foi publicado em 2015, dedicado exclusivamente a textos sobre questões estéticas. E até a finalização desta revisão, há apenas rumores quanto à publicação do segundo volume, nenhuma confirmação. Para visualizar o anúncio das obras em 15 volumes ou mais, favor acessar: http://www.estmir.net/plano-para-as-obras-completas-de-vigotski-em-15-tomos.html
[5] Como diz Rubinstein “o princípio da unidade psicofísica é o princípio mais importante da psicologia soviética” (1940/1967, p. 34). O que também se pode deduzir da posição monista de Vigotski ao afirmar que “a psique não aparece isolada do mundo ou dos processos do organismo nem por um milésimo de segundo” (1926/1991, p. 150). Dediquei uma seção a este princípio, ao discutir alguns “princípios de psicologia geral numa abordagem histórico-cultural” (Delari Jr. 2009b, p. 12-13).
[6] Detalhei essa discussão de Vigotski em um trabalho à parte, produzido como material didático para o nosso grupo de estudos em Umuarama (ver Delari Jr., 2009a).
[7] Segundo Rubens Rodrigues Torres Filho, tradutor brasileiro de obras de Schopenhauer, no sistema deste pensador: “a vontade é a raiz metafísica do mundo e da conduta humana; ao mesmo tempo, é a fonte de todos os sofrimentos. Sua filosofia é, assim, profundamente pessimista, pois a vontade é concebida em seu sistema como algo sem qualquer meta ou finalidade, um querer irracional e inconsciente. Sendo um mal inerente à existência do homem, ela gera a dor, necessária e inevitavelmente, aquilo que se conhece como felicidade seria apenas a interrupção temporária de um processo de infelicidade e somente a lembrança de um sofrimento passado criaria a ilusão de um bem presente. Para Schopenhauer, o prazer é momento fugaz de ausência de dor e não existe satisfação durável” (Torres Filho, 1980 – p. XII). Para quem já leu Freud, não haverá dificuldade em reconhecer semelhanças quanto a este modo trágico de retratar existência humana, em seu perpétuo “mal estar” — ver também a nota “11”, na p. 10 deste trabalho.
[8] Provavelmente, Joseph François Chabrier (? – ?), autor de “Les émotions et les états organiques”, obra publicada em Paris, pela Alcan em 1911. Não sei dizer o que aconteceu a este estudioso, por qual motivo é tão pouco conhecido. Não se encontram registros biográficos sobre ele, nem mesmo títulos de outras obras suas. Este livro de 1911 encontra registro no site “Google books”, indicando que se trata de um volume de 157 páginas — contudo não está disponível para venda ou consulta. As principais apreciações positivas de Vigotski com relação a este autor no capítulo 18 de “Teoria das emoções” foram compiladas num texto meu de cunho didático (Delari Jr., 2009a). Em alguns momentos não se sabe até que ponto as palavras são de Vigotski ou paráfrases de Chabrier.
[9] Em russo a palavra é “смысл” [smisl] que é mais comumente traduzida como “sentido”, entre os conceitos vigotskianos. Como no capítulo 7 de “Pensamento e linguagem”, em que Vigotski (1934/2001) diferencia “sentido” de “significado” — respectivamente “смысл” [smisl] e “значение” [znatchenie].
[10] Isto não só é apontado por Vigotski, como tem sido reconhecido e até mesmo elogiado por estudiosos contemporâneos de Freud, como o professor Zeljko Loparic (ver Loparic, 2001).
[11] Nas palavras do próprio Freud, em “História do movimento psicanalítico”: “Otto Rank (1911a) nos mostrou um trecho da obra de Schopenhauer World as Will and Idea na qual o filósofo procura dar uma explicação da loucura. O que ele diz sobre a luta contra a aceitação da parte dolorosa da realidade coincide tão exatamente com o meu conceito de repressão que, mais uma vez, devo a chance de fazer uma descoberta ao fato de não ser uma pessoa muito lida” (FREUD, 1914/1978 – p. 45). De modo jocoso, o autor sugere que por ignorar o caráter social de suas próprias ideias, pode imaginar tê-las “descoberto”.
[12] Quanto ao caráter “não dinâmico” da psicanálise, Vigotski recua em “As emoções e seu desenvolvimento na idade infantil”, com a hipérbole de que “Freud mostra a extraordinária dinâmica da vida emocional” (Vigotski, 1932/1998, p. 96). Diz que ele a “mostra”, mas em seguida já acrescenta que “uma conclusão puramente formal de suas pesquisas é, a meu ver, correta, apesar da falsidade, em essência, da afirmação fundamental de Freud”. A ambivalência das emoções nas primeiras etapas de desenvolvimento é a constatação que Vigotski aceita “apesar do caráter equivocado da explicação que [Freud] fornece sobre a emoção ambivalente” (idem). Como no tema da relação “vida e morte” (ver página 19, deste trabalho), acolhe o problema concreto, mas rejeita a explicação metafísica — falsa “em essência”. Já quanto ao “anti-histórico”, manterá sua posição — ver página 15, deste trabalho.
[13] Como dissemos noutro lugar (Delari Jr. e Bobrova Passos, 2009) — não aderimos totalmente às periodizações correntes da obra de Vigotski. Cabe notar distinções qualitativas entre obras como “Psicologia da arte” (Vigotski, 1925/1999) e “Psicologia pedagógica” (Vigotski, 1924/2003; 1924/2004), ambas de um “mesmo período”. Mas é importante admitir que em 1925 Vigotski ainda não concebia a psicologia mediante a “teoria histórico-cultural”, cujos contornos mais nítidos teriam sido definidos só em 1928 (ver Valsiner e van der Veer, 1991/1996; Veresov, 1999). Pode-se até ver algo de reflexológico na “Psicologia da arte”, quando sentimentos proporcionados pela obra são vistos como “reações estéticas” e sua culminância catártica como “descarga de energia nervosa”. Contudo, Vigotski também busca o que diferencia as relações forma/conteúdo de cada obra e não apenas um mecanismo genérico que iguale a todas — o que critica no pansexualismo, infantilismo e interpretação energética dos psicanalistas.
[14] No final de sua vida, Freud sugerirá que a “pulsão de morte” não é da mesma natureza que a libido — em algum momento, concebida como “sexual”. Neste período o próprio conceito de energia psíquica se torna mais abstrato e misterioso: “Presumimos (...) que na vida mental esteja em ação alguma espécie de energia, mas não temos nada em que nos basear que nos capacite a aproximarmo-nos de um conhecimento dela através de analogias com outras formas de energia” (Freud, 1938/1978, p. 212). Esta declaração é de 1938. Freud morreu em 1939. Não se pode dizer que fosse um “desvio metafísico da juventude”.
[15] Vários exemplos desse reducionismo poderiam ser dados, um dos mais notórios está em “O futuro de uma ilusão”, de 1927, no qual a religião é tratada não como realidade antropológica com suas especificidades simbólicas para cada sociedade em diferentes realidades geográficas e tempos históricos, mas tão somente como uma “neurose obsessiva universal da humanidade”. Nas palavras do próprio autor: “Assim, a religião seria a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai” (FREUD, 1927/1978, p. 117). Freud já tinha 71 anos quando escreveu isso — o que sugere não ser também nenhum “descuido juvenil”, embora o erro seja aqui mais grave que o da nota anterior.
[16] Mitólogos como Junito Brandão (1992) mostram que a leitura que Freud faz do Édipo é contestável. Pois Édipo, na lógica da tragédia, não mata o pai por desejo de estar (tampouco “permanecer”) com a mãe, mas para se tornar rei. A rainha é só um prêmio secundário que vem com o trono, posto que a cultura grega antiga dava muito pouco valor à mulher. Freud, por sua vez, tenta fazer do seu Édipo um princípio arcaico e válido para qualquer tempo histórico, sem considerar características culturais e políticas do povo que criou a obra literária. Tomou sua própria ideologia e a “projetou”, para usar seus próprios termos, sobre o passado distorcendo o caráter original do mito, lendo-o como convinha a seus interesses teóricos. Sua versão particular tornou-se tão difundida e de senso comum a ponto de posar hoje como algo “universal”, estruturante da personalidade de todo ser humano, em qualquer tempo e espaço.
[17] Ver nota “14” — na página 14, deste trabalho.
[18] Um texto de 1925, bastante curioso, no qual os autores relatam que “uma nova e original tendência de psicanalistas está começando a se formar na Rússia, a qual, com ajuda da teoria dos reflexos condicionados, tenta sintetizar a psicologia freudiana e o marxismo e desenvolver um sistema de psicologia reflexológica freudiana no espírito do materialismo dialético.” (Vygotsky e Luria, 1925/1994, p. 11). Contudo, estas mesmas tentativas de fusão entre psicanálise e marxismo serão criticadas em 1927, como vimos, inclusive a do próprio Luria. Assim também a ideia vaga de que “Para além do princípio do prazer” tinha “enorme potencial para uma compreensão monista do mundo” (idem, p. 17), não foi suficiente para evitar que Vigotski em 1927 viesse a argumentar contra tal suposto “monismo”. Possivelmente, o prefácio de um livro por publicar-se na URSS bolchevique, que almejasse sucesso editorial, não poderia taxá-lo abertamente de “metafísico” ou “dualista”. Contudo, além da dúvida sobre as condições editoriais da produção do texto, fica também difícil saber de que modo interveio cada autor em sua redação, o que coube a cada um deles.
[19] Augusto Boal, em sua análise crítica da dramaturgia clássica grega, aponta para o caráter ideológico doutrinário desse processo de “purificação”... Pois as emoções a serem transformadas em uma “mais pura”, “superior”, eram justamente aquelas que contradiziam os padrões morais dominantes, próprios das castas aristocráticas da polis grega (ver BOAL, 1975/1988). O que não destoaria da avaliação de Bakhtin quanto aos chamados “gêneros sérios” como a lírica e a tragédia, porta-vozes de uma cosmovisão aristocrática, sisuda, que tende mais ao monológico que ao polifônico, cuja raiz está mais nos gêneros sério-cômicos próprios da cosmovisão carnavalesca de origem popular (Bakhtin 1929/1997). Algo para o que Vigotski não atenta. Outra distinção quanto às preferências literárias de Vigotski e Bakhtin, sobretudo quanto ao papel do cômico e da caricatura, pode ser ventilada, mas não é o momento.
[20] Pude contar 40 nomes, além de Freud, cujas contribuições são citadas: Aristóteles; Avenarius; Christiansen; Darwin; Dessoir; Diderot; Fischer; Goethe; Gross; Hamann; Hennequin; Herder; Iakubinski; James; Kornílov; Kulikóvski; Leman; Lessing; Lipps; Maier; Meinong; Meumann; Müller; Müller-Freienfels; Münstenberg; Orchanski; Ovsiániko-Kulikovski; Pietrajitski; Platão; Potiebniá; Ribot; Shiller; Sócrates; Spencer; Titchener; Viessielovski; Witasek; Wundt; Zeller; e Zienkovski. Num capítulo de 24 páginas, o nome de Freud aparece apenas nas páginas 251, 252 e 256. Caberia estudar a especificidade destas “outras vozes”, resgatando a pluralidade de contribuições sobre “catarse” neste capítulo, que se apaga pelo destaque desproporcional a Freud.
[21] Para Andrei Puzirei, esta busca diz respeito às “finalidades e os valores fundamentais presentes em todo o pensamento de Vigotski” (PUZIREI, 1989, p. 16 – grifos na fonte). Entende-se que há na sua obra uma forte “orientação ao ‘supremo’ no homem ou, para dizê-lo com palavras de Dostoiévski, ao ‘homem no homem’, à sua organização psíquica e espiritual, desde o ponto de vista do que pode ser, em geral, o homem e dos caminhos que existem para este estado possível, dos caminhos que abre, em particular, a arte e a psicologia da arte.” (idem). Evidentemente, Vigotski jamais poderia definir tudo que compõe o sentimento de ler Shakespeare, Dostoiévski, Bunin, num genérico e mudo conceito de “descarga de energia nervosa”, nem teria sido esse o objetivo principal de sua “Psicologia da arte”.
[22] Como se pode ver no capítulo 18 de “Teoria das emoções”, “psicologia profunda” é um termo usado por Vigotski para se referir à psicanálise freudiana (ver Vygotski, 1931-33/2004, p. 215).
[23] Veja-se a questão do infantilismo, já discutida na parte II — na página 9 deste trabalho. E também a nota 15, na página 8, sobre o tratamento dado por esse autor ao tema da religião.
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______. (1932*/1991) “El problema de la conciencia”. In:______. Obras escogidas - Tomo I. Madrid: Visor y Ministerio de Educación y Ciencia. *A datação é imprecisa, em Vigodskaia e Lifanova (1996) aparece como em apresentação em dezembro de 1933, em Zavershneva e van der Veer (ver Vigotski, 2017) aparece como tendo sido em dezembro de 1932.
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DELARI JR., A. “Críticas de Vigotski com relação a Freud: contra o ecletismo no estudo das emoções”. [2009]. In: Estação MIR, 2020.
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